O que nos liga...
Como reagir a tudo isso que você diz
Quando vem e me pega assim,
De surpresa?
Qualquer poeta desconcerta
Com palavras de quem se ama...
Acho que é isso que nos liga, meu amor...
Esse lirismo das coisas bobas
A beleza do que é simples
Das besteiras todas da vida...
E quendo estamos juntos,
É isso que nos liga, meu amor...
Esse pulsar das coisas intensas
Ou a poesia que há em braços que se entrelaçam
Em pessoas que se perdem
Como que dissolvidas num só abraço,
Num só desejo,
No amor, que é um só.
É tudo isso que nos mantém perto
Quando recebo feliz as tuas palavras vindas de longe
E tenho vontade de chorar e rir e gritar
E não fazer nada na nostalgia da felicidade de te ter...
De te ter comigo, morena...
É tudo isso que nos mantém perto...
Quando ouso rabiscar esses meus versos seus
Em que brinco de poeta menino apaixonado,
Em que tento traduzir aquela coisa que nunca conseguirei...
É tudo isso que nos mantém perto...
Essa poesia que está em tudo em nossa história:
Na rua,
Naquela árvore,
(Na constelação das três Marias)
Em tudo...
Desde o beijo intenso e quente,
Até o sopro leve que bate no ouvido
Quando resolvemos, bem de perto,
Dizer que a gente se ama...
Caminharemos...
Está uma noite poética...
Por que não falar da nostalgia e da paixão
Que me surgem com as notas da canção desconhecida?
Vozes e pequenos pontos de luz...
Luzes de inúmeros brilhos de olhares
Que anseiam por um mundo novo
Que o constróem...
Trazendo consigo a beleza da Luta
O sentimento da igualdade
Da poesia...
Da poesia de que me falava essa moça...
Que como eu há tempos rascunhava seus versos,
Revolucionária.
Foi no grito que me encontrei
Foi,
É,
E será a força da vontade desse povo povo
Que fará sempre mover aqui dentro uma energia nova
Na certeza de que não estou só.
Hoje, uma palavra,
Por mais involuntário ou casual que pareça,
Ressoa na cabeça pensante e no peito poético
Deste lutador filosófico:
Avante, mundo novo!
Em nossas mãos e em nossos olhos,
Nossos anseios
E a nossa vontade inesgotável de caminhar.
Assim sendo, nos uniremos.
Caminharemos...

13/11/2008, às 00:53hs, durante espera pelo resultado da apuração das eleições do DCE UFV, para escolha da gestão 2009.

Texto dedicado ao grupo AVANTE!, que não venceu a eleição, para tristeza do verdadeiro movimento estudantil, e para a felicidade dos que o encaram como um promotor de festas...

Grupo que não venceu, mas que me ensinou que a Luta é bonita... galera que ensina a se apaixonar pelas coisas em que se acredita.
Continuaremos trabalhando, dentro ou fora do DCE, na certeza de que a nossa função, enquanto Movimento, é levar adiante todas as nossas pautas, encarando de frente aqueles que vão ao encontro dos falsos aplausos, mas que não constróem uma Universidade Nova, Viva e voltada para a Libertação dos Povos...
Uma música diria bem: "Quem sempre quer vitória esquece a glória de chorar"... e foi cantando com vocês, gritando com vocês nessa madrugada difícil e forte, que me vi chorando por encontrar em todos a vontade de viver e de lutar que eu quis pra mim. Não estamos sozinhos, e trabalharemos unidos para construir a sociedade nova que tanto sonhamos e que conquistaremos, lutando com a mesma garra que mostramos nessa noite e nesses anos de trabalho à frente do DCE e do ME.

Fica sempre um recado: no DCE ou não, AVANTE!

"Das ruas, das praças a gente não saiu!
Aqui está presente o Movimento Estudantil"
Também sei contar, querida...
A canção me faz pensar em você,
Meu anjo...
Outra vez aperta a saudade
De rir com você sentado na rua
Procurando a lua no céu...
Reclamando das nuvens que não a deixam aparecer...
Rindo, a te ouvir falar do barulho que faz,
Quando a gente come alface... faz barulho?
Saudade de sentir tua pele perto
Teu coração batendo forte, perto do meu...
E o teu sorriso baixinho ao meu ouvido...
Não falta muito, meu bem.
Estarei contigo de novo para ter-te minha
E doar-me pra você...
Para me perder na imensidão da alegria do beijo,
Do afago,
Do abraço forte,
De tudo mais que vier
No desespero do encontro,
No desespero da vontade de matar essa coisa que às vezes dói tanto...
Isso que mantém teus olhos longe dos meus
E que em breve não será mais...
Não haverá mais, espero.
Espero com o coração apertado,
E cheio de vontade de ir a tua casa,
Chamar o teu nome
E te abraçar...

26/10/2008
Criatividade é pra quem sabe o que faz...


Santa chuva, maravilhosa música na interpretação de Los Hermanos...
Nós não temos Control+Z...

Vivem falando por aí de "inteligência artificial". Dizem que os computadores ainda tomarão o nosso lugar, nossas funções, como - em certa medida - já tem acontecido.

Ao que parece, os nossos concorrentes máquinas foram feitos à nossa "imagem e semelhança"... coincidentemente (ou não) feitos como nós, para que, diante deles, parecêssemos "dispensáveis"...

Cheguei à constatação disso analisando atalhos: os eternos "Controls+alguma coisa", que tanto nos ajudam às vezes. Suas funções, com toda certeza, são inspiradas no dia-a-dia de nós, reles orgânicos sentimentais...

O "Control+N", por exemplo, abre novos documentos de texto. Nós também vivemos adicionando pessoas, con-textos, emoções, ao nosso arquivo pessoal. vivemos abrindo novos documentos na memória, registrando muita coisa que a gente pretende nunca jogar na lixeira.

"Control+C, Control+V" são utilizados com uma freqüência incrível na sociedade da idolatria dos padrões. Seria um excelente nome para uma academia ou para um salão de beleza, não é? Saiu no Fashion Rio? Copia. Modelito de novela das oito? Cola!

E quando surgem os conflitos, os problemas, quem nunca acionou o seu "Control+Alt+Del"??? É... A gente costuma abrir sempre o nosso Gerenciador de Tarefas: abrir algumas, alternar para novas, e, principalmente, encerrar as que não estão respondendo. Dar uma geral e partir para a luta outra vez...

Talvez, seja esse também o motivo de estarem preferindo computadores a nós, humanos: apesar de nossa semelhança incrível, eles têm algumas funções em que nos superam. O "Control+Z" é uma delas.

Esse é um dos meus atalhos preferidos (acho que de todo mundo), porque é o responsável por desfazer erros quando a gente faz alguma besteira tecnológica. É o responsável pelo "voltar atrás" a gente não tem nas mãos no dia-a-dia.

Tantas vezes se quis consertar alguma merda cometida, não ter dado algum passo (ou ter dado, quem sabe?)... e a gente só deixa cair a ficha disso quando já salvamos as alterações no arquivo. Ou melhor: quando o Tempo, por conta própria, tratou de fazer isso. Ele têm um "Control+S" fantástico, acionado involuntariamente a cada instante. A gente se chateia, chora, se revolta, mas não tem jeito: por mais que se calculem as possibilidades, as conseqüências, nunca se sabe o que virá. E quando vier, por pior que seja, nós não temos "Control+Z".

Que fazer? Lamentar e seguir a vida triste, conformado com a realidade esmagadora (dramático isso, hein?)?! Eu acho que não. Não há motivo para tristezas.

Com todas essas reflexões, consigo ainda sentir-me melhor que qualquer máquina com todos os seus atalhos. O mágico da Vida é a adrenelina de se lançar ao Desconhecido... aprender todas as suas filosofias, refletir sobre todos os momentos ruins, desfrutar de todos os momentos bons...

Ter a consciência de que, um dia, nosso computador será desligado.
E mesmo que o reiniciem (quem sabe se existem outras vidas?), a caminhada começa outra vez: os arquivos todos se apagam quando nos tiram da tomada. As experiências nunca serão iguais. A gente só tem o privilégio de viver uma vez...

Não temos "Control+Z"... Mas somos - reles - orgânicos sentimentais... e isso é o que importa... porque isso é o que nos habilita à felicidade...

Murilo Araújo, 25/10/2008
L'amour...


Um filminho para alegrar os dias...
Viva os amores conflituosos!!!
Quem nunca teve um?
E quem nunca fez loucuras por ele???
Erro


Que fosse terno enquanto durasse.
Como durar algo que nunca existiu??
Como admitir para si mesma
Que errará?
Errará em se envolver.
Errará em acreditar.
Errará em imaginar
Que existisse algo de verdadeiro
Naqueles beijos.
Naquele tocar.
Naquelas carícias.
Ele olhava-te nos olhos.
Ele abraçava-te veemente.
Como acreditar
Que tudo não passava De uma mera distração?
Acreditastes.
Errastes...
Pior:
Arrependera-se.

Texto da grande amiga Lina Maria.
Te amo, querida...
O amor é filme!



O amor é filme!
Eu sei pelo cheiro de menta e pipoca que dá quando a gente ama
Eu sei porque eu sei muito bem como a cor da manhã fica
Da felicidade,
Da dúvida,
Dor de barriga
É drama,
é aventura,
é mentira,
é comédia-romântica

Um belo dia a gente acorda e humm!
Um filme passou pela gente
E parece que já se anunciou
O epísódio dois!
É quando a gente sente o amor
Se abuletar na gente
Tudo acabou bem...
Agora é o que vem depois

É quando as emoções viram luz
E sombras e sons, movimento
E o mundo todo vira nós dois
Dois corações bandidos
Enquanto uma canção de amor
Persegue o sentimento

E sobem os créditos...

O amor é filme
E Deus expectador!!!

Cordel do fogo encantado
Caracóis Zapatistas

“Segundo nossos ancestrais, é necessário sustentar o céu para que ele não caia. Ou seja, não é que o céu não esteja firme, mas sim, que, de vez em quando, fica fraco e quase desmaia e se deixa cair como as folhas caem das árvores, e então acontecem verdadeiras calamidades, porque o mal chega ao milharal, a chuva o quebra todo, o sol castiga o solo, quem manda é a guerra, quem vence é a mentira, quem caminha é a morte e quem pensa é a dor.

Disseram nossos ancestrais que isso acontece porque os deuses que fizeram o mundo, os primeiros, se empenharam tanto em fazer o mundo que, depois de terminá-lo, não tinham muita força para fazerem o céu, ou seja, o telhado de nossa casa, e o colocaram assim, do jeito que deu, e então o céu foi colocado sobre a terra como um desses telhados de plástico. Ou seja, o céu não está bem firme, mas, às vezes, parece que afrouxa.. E é necessário saber que, quando isso acontece, se desorganizam os ventos e as águas, o fogo se inquieta e a terra quer se levantar e caminhar sem sossego.

Por isso, os que chegaram antes de nós disseram que, pintados de cores diferentes, quatro deuses voltaram ao mundo e, tornando-se gigantes, colocaram-se nos quatro cantos do mundo para prendê-lo ao céu para que o céu não caísse, ficasse quieto e bem plano, para que o Sol, a Lua, as estrelas e os sonhos caminhassem por ele sem sofrimento.

Mas aqueles que deram os primeiros passos por essas terras contam também que, às vezes, um ou mais dos pilares, os sustentadores do céu, começasse a sonhar, dormir ou se distrair com uma nuvem. Então, o seu lado do telhado do mundo, ou seja, o céu, não fica bem esticado, afrouxado, quisesse cair sobre a terra. Já não fica plano o caminho do Sol, da Lua e das estrelas.
É isso que aconteceu desde o início. Por isso, os primeiros deuses, os que deram origem ao mundo, deram uma tarefa a um de seus sustentadores para ficar de prontidão, para ler o céu, ver quando começa a afrouxar. Então, esse sustendador deve falar aos demais sustentadores para que acordem, voltem a esticar o seu lado e as coisas se acomodem outra vez.

Esse sustentador nunca dorme. Deve sempre estar em alerta e de prontidão para acordar os demais, quando o mal cai sobre a terra. Os mais antigos no passo e na palavra dizem que esse sustentador do céu leva um caracol pendurado no peito e com ele ouve os ruídos e os silêncios do mundo, para ver se está tudo certo, e pelo caracol, chama os outros sustentadores para que não durmam ou para que acordem.

E dizem aqueles que foram os primeiros que, para não adormecer, esse sustentador do céu vai e vem para dentro e para fora do seu coração, pelos caminhos que leva no peito. Dizem aqueles mestres mais antigos que esse sustentador ensinou aos homens e às mulheres a palavra e a sua escrita, porque dizem que, enquanto a palavra caminha pelo mundo, é possível que o mal se aquiete e no mundo tudo esteja certo. Assim dizem.

Por isso, a palavra do que não dorme, do que está de plantão contra o mal e suas maldades não caminha direto de um lado para o outro, mas sim anda rumo a si mesma, seguindo as linhas do coração, e para fora, seguindo as linhas da razão. E dizem os sábios de antes que o coração dos homens e das mulheres tem a forma de um caracol e aqueles que têm bom coração e pensamento andam de um lado para outro, acordando os deuses e os homens para que fiquem de plantão para que esteja tudo certo no mundo. Por isso, quem vela quando os demais dormem usa o seu caracol, e o usa para muitas coisas, mas, sobretudo, para não esquecer.”


Subcomandante Marcos, EZLN (Exército Zapatista de Libertação Nacional), em Julho de 2003
Vestígios



Pra quem não vê o sol
E passa as horas a contar história de um tempo que não vai ficar
A dança das ondas sob a luz do luar
Se desfaz com o vento voltando pro mar
Tentando encontrar vestígios
De algo que ficou pra trás e que insiste em me acordar

É impossível não querer ver nascer o sol
Olhar pra frente e ver,
Achar o meu lugar, achar o meu lugar.
Quero te encontrar em cada olhar pra ver passado e futuro,
Nesse instante a se fundir
Pra me levar bem longe daqui...

Cruzando desertos e mares então eu percebi
Que do meu destino eu não posso fugir
Tentando encontrar vestígios,
E aquilo que ficou pra trás já não insiste em me acordar...

É impossível não querer ver nascer o sol
Olhar pra frente e ver que aqui é meu lugar...
Estou no meu lugar...
Você é meu lugar...

Kaike Lamoso
As suas amigas têm pinto?

Outro dia ri de uma situação, digamos, bem interessante... Um garoto levemente bêbado estava chegando em casa, voltando do aniversário de um amigo, mais cedo do que o normal. Reclamava incansavelmente do fato de a sua atual "ficante" tê-lo trocado pelas amigas.

Creio que, do jeito que as coisas andam, qualquer outro rapaz poderia ter julgado a escolha da garota algo absolutamente normal. Não que isso não fosse ofender o seu ego, mas provavelmente, ele tomaria mais uma cerveja e partiria em busca de outros lábios.

Mas aquele era um caso especial, devo admitir. A tal garota já havia ficado com ele em uma ocasião anterior, duas semanas antes. E tinha adorado... isso estava claríssimo. E segundo as amigas dela, ela também tinha gostado muito (vale dizer que isso só enalteceu a "auto estima" do cara...). Ela morava em outra cidade, mas ligava pra ele sempre... Naquela festa, ela estaria. Ele contava os dias. Ela estaria lá, para ficar com ele outra vez, e, com toda certeza, aquele seria o grande dia: o dia do sexo!!! O dia em que ele traria a menina para o seu quarto e a deixaria louquinha... O dia qm que faria sua musa se apaixonar...

O problema é que, contrariando todas as expectativas do rapaz, a coisa não foi bem assim. Ela preferiu ficar com as amigas. E ele, supostamente com toda a razão, não parava um segundo de reclamar. Era estressante ter que aguentar os desabafos frutos de um ego ferido. Mas uma parte da conversa foi muito divertida... ele, levemente bêbado, repito, resmungava com um ser imaginário, como se a tal garota estivesse ali, frente a frente:

"As suas amigas te pegam de jeito? Não. Eu pego. As suas amigas te dão beijo bom, na boca? Não. Pois eu dou. As suas amigas têm pinto? Não?! Pois eu tenho! Agora vai lá, ficar com suas amigas!!!"

Bom... nada nos resta a não ser tentar parar de rir fazer uma análise do caso: a garota ficou com ele uma vez, gostou disso a ponto de permitir que suas amigas contassem isso para ele (pressupondo que as tais colegas são amigas de verdade, elas não iam sair falando disso sem autorização e objetivo). Além disso, usou o aniversário de um parente como pretexto para sair da sua cidade e ficar com ele de novo... Será que tudo o que ela queria era um pinto? Ou será que ela foi procurar nas amigas o companheirismo e os ouvidos atentos que não encontrou no desespero por sexo que tomava conta do cara?

Os desabafos bêbados do meu colega me fizeram lembrar de uma frase que escutei uma vez, e com que nunca me conformei: "se um garoto se aproxima de uma garota, ou é para levar ela pra cama, ou é pra ser o cabeleireiro dela".

Se as coisas estão realmente assim, a que ponto chegamos? Que nível de relação estabelecemos com as outras pessoas? Sexo é bom, disso ninguém discorda, mas será que as coisas não têm limites, os outros são apenas bonequinhos infláveis? O egoísmo e a busca incansável por prazer superaram a construção de qualquer sentimento por outra pessoa? Não existe mais amizade? Não existe mais amor?

O que queremos das outras pessoas? O que queremos que elas queiram de nós?

Um pinto?

07/09/2008
Nostálgica Poesia sem título - 2
Sei lá o que se passa na cabeça...
Sei que estou um pouco mais feliz...
Não me entendo:
Viajo na mesma nostalgia das lágrimas daquele dia
Mas dessa vez abro um sorriso.

Olho em volta e estou cercado por desconhecidos,
Mas me sinto bem em estar aqui.
Aqui é o meu lugar.
Se estou aqui é por que deveria:
As coisas não são por acaso.
E estou feliz por saber que...
Em algum lugar aí... pelo mundo...
Alguém me ama.
E estou feliz por poder amar alguém...
Alguém que está em algum lugar aí... pelo mundo.
E estou feliz por poder resolver amar a qualquer um
Qualquer um desses desconhecidos em volta
Ou todos eles...
Qualquer um que se abra...
Basta que eu abra o meu peito para as coisas novas.
Basta que eu resolva amar
Basta que eu me descubra
Que descubra o meu caminho...
E decida caminhar...

04/09/2008

Diário de 6 de setembro
Só um detalhe... não atente para a provável falta de atualidade dos fatos. Se você olhar a data em que a crônica foi escrita, vai ver que ela é do ano passado... o que não a torna menos próxima temporariamente...



Hoje, indo para casa, algo me chamou atenção: crianças voltando da escola, sozinhas ou com seus pais, todas em tons de Brasil: o rosto pintado em verde e amarelo, bandeirinha na mão, fitinha no peito... manifestações diversas, mas sempre o verde e amarelo...

Ah! Tá explicado. Amanhã é sete de setembro! E como é feriado, não haverá aula e hoje é dia de iludir as criancinhas. Até imagino o discurso da professora:
"Amanhã é um dia muito importante. Há 185 anos, o forte, bom e corajoso Dom Pedro, no seu belo cavalo foi às margens do Ipiranga, desembainhou sua espada, ergueu-a bravamente e gritou 'Independência ou Morte!!!', tirando o Brasil do domínio de Portugal e nos encaminhando para a Liberdade!"

Ao ouvir esse discurso, apelo para uma velha frase da minha avó: "esse veneno é bom..." Essa mentira é doce... E chego à conclusão que amanhã verei crianças, jovens, adultos, todos diante da sua TV, mão no peito, contando o hino nacional e acompanhando uma cerimônia qualquer que esteja acontecendo em Brasília.

Eu me revoltarei. Não há mentira maior no país que o nosso hino nacional. Pôr a mão no peito para cantá-lo? Isso me revolta...

Será impossível pensar em malas, cuecas, CPI's, olhara para uma bandeira em que está escrito "Ordem e Progresso" e não ficar chocado com a contradição que há nessas coisas.

Amanhã vestirei luto. Me cansarei desse patriotismo falso de olimpíadas e copas do mundo.
E sei que, quando estiver nas ruas, gritando um grito de excluídos, alguém irá perguntar o por que do meu preto, em vez de um verde e amarelo, como todo mundo.

E responderei que é pelo mesmo motivo que todo mundo: amo meu país... e não quero vê-lo na morte da exclusão, da pobreza e da mentira.

Enquanto os falsos patriotas estiverem por aí, eu me resumirei em revolta.

06/09/2007


Veja também:
  • A crônica "Independência ou Liberalidade!!!" e a palhaçada do feriado, no Audácia Crítica
Aos amigos bêbados...


Bêbados são interessantes.

Descobri que chega a ser um exercício filosófico o ato de parar e admirar bêbados. Dá pra aprender muita coisa com eles.

Bêbados são sinceros. "O que a sobriedade esconde, a embriaguez revela", já dizia um professoar que tive. E o que a sobriedade esconde é o calor humano, o abraço, o carinho, tão escondidos pela frieza dos últimos tempos. Por vezes, bêbados são chatos, é bem verdade. Ninguém aguenta aquele cheiro de cerveja (na melhor das hipóteses) fumegando na cara o tempo todo, e bem pertinho... bem pertinho mesmo... nos agarram num abraço de que é difícil sair... quase impossível, eu diria.

Mas que são sinceros, não se pode negar.

A bebida os faz revelar a loucura escondida, reprimida em todos nós pelas "regrinhas sociais". Mas bêbados se lembram de regras? Apenas fazem e dizem tudo o que lhes vem à cabeça, crianças grandes, despreocupadas e felizes.

Bêbados são tão interessantes, que ninguém, nunca, ficou indiferente a um deles. Causam risos, raiva, nojo, solidariedade, amizade, cuidado e até mesmo tudo isso junto.

Bêbados não receiam dizer que amam. Pergunte a qualquer pessoa "normal" se ela ama os seus amigos. A resposta será positiva. Pergunte então quantas vezes ele já expressou isso. Provavelmente nunca. Se já, talvez não se lembre, por ter bebido algumas a mais na ocasião. Bêbados, repito, não receiam dizer que amam. E se dizem, amam masmo.

Enfim, descobri que sou um fã de bêbados, apesar de nem sempre ser um deles. Todos deveriam, pelo menos um dia, beber um pouco menos para admirá-los por um tempo. São engraçados... e ensinam muito, apesar de não parecer...

Quanto aos médicos, mães preocupadas e pais puritanos que alertarão que bebidas não fazem bem, gostaria de dizer que sei disso. Mas sei também que a vida oferece muito mais com que se "embriagar": a liberdade, as amizades verdadeiras, o amor, as paixões, o simples desejo de ser feliz.

Bebidas fazem mal... mas de bêbados, todos deveríamos ter um pouquinho. Para tentar resolver o impasse, então, fica um conselho:

Embriaguemo-nos de Vida!!!

07/06/2008, às 00:24hs, durante uma festa cheia de amigos bêbados...

Nostálgica poesia sem título.
Estou numa noite silenciosa hoje.
Logo eu que falo tanto...
Ouço apenas o som da nostalgia:
Viajo nas notes da canção que ouço
E nem sequer sei o que diz.
Viajo, chego às lembranças...
Daquela namorada...
Daquele primo chato em quem confiava tanto...
Daquelas amigas fiéis...
Mãe, pai, irmãos, avó...
Daquela turma doida
E daquela outra turma doida.
Tudo isso é bom...
Sei que estão comigo...

Mas a saudade aperta
E as lágrimas não sufocam o que a distância faz com a gente.
Agora a pouco me perguntava se estou feliz.
Acho que sim:
Até abri um sorriso.
Mas muita coisa falta ainda.
Passei o dia me sentindo inútil
E há tempos estou assim.
Nada me liga a nada?
Sinto falta do abraço forte
Como aqueles de outro dia
Que me deixavam tão mais seguro.
Sinto-me inútil para as coisas práticas...
E o que mais me dói é nem ter certeza da minha real importância.
Pra alguém ou pra qualquer coisa.
Ainda me sinto só.
E agora tudo está mais difícil,
Não sei bem porquê...

Falta ânimo.
Falta força.
Naõ tenho vontade de nada.
Preciso voltar a encontrar sentido nas coisas.
Preciso me reconstruir.
Porque meus alicerces agora estão longe.
E por mais que me apóiem,
Por mais que me amem,
Por mais que eu os ame com todo o meu ser,
Não posso estar com eles todo o tempo...

Às vezes acho que estou sem rumo.
E preciso me achar de novo
Pra tentar voltar a caminhar...

31/08/2008
Uma bicicleta, dois coxins e muita amizade...


Um operário que morava há alguns quilômetros da fábrica onde trabalhava. Precisava adquirir uma bicicleta para facilitar as suas idas e vindas para o trabalho. As despesas com a família não eram grandes, mas o dinheiro que ganhava era tão pouco, que mal dava para cobrir as necessidades básicas de cada mês.

Quando começava a juntar um pouquinho para realizar o sonho de ter o seu meio de transporte, sempre aparecia uma urgência que o fazia mudar o itinerário das suas economias. Um dia, no caminho do serviço, conversando com o seu amigo João, colega de trabalho, contou da sua necessidade de ter uma bicicleta que pudesse tornar menos cansativa a chegada no emprego. O seu amigo lhe disse que também havia por muito tempo sonhado com isso, mas que foram tantos anos tentando sem conseguir, que havia desistido do sonho.

A conversa encerrou por ali; haviam chegado à fábrica e cada um foi para o setor que trabalhava. No final do turno, de volta para casa, os dois amigos encontram-se novamente para fazerem o caminho de volta pra casa. A conversa da bicicleta era muito importante para ambos e não poderiam deixar de comentar o assunto.

- E aí, João, vamos ressuscitar a idéia da bicicleta. Não se deixa de lado os sonhos, por mais difíceis que eles pareçam...

- É, eu sei que isso é verdade, responde João – mas as durezas do viver muitas vezes nos fazem pensar o contrário!

- Sabe João, continuou, o amigo – estive pensando que se você quisesse, poderíamos comprar uma bicicleta para nós dois.
- Como, uma bicicleta para duas pessoas?

- É, João. Estive olhando outro dia numa revista e existem bicicletas que têm dois coxins, quatro pedais, dois guidões, e o que é melhor, não custa o valor de duas bicicletas; é um pouquinho mais cara que a outra, mas bem mais barata do que duas.

- Então, veja se eu entendi: a gente junta as nossas poucas economias, compra uma bicicleta de dois coxins para nós dois e vamos e voltamos juntos do trabalho, certo?

- É isso mesmo!

- Bem, falou João, e onde ficará guardada a bicicleta, se nós dois seremos os donos?

- Na sua casa, João, você mora mais longe e precisará muito mais dela do que eu.

- E quando der algum problema, e a bicicleta estiver comigo?

- Nós vamos dar um jeito de consertá-la, afinal somos nós que nos utilizamos dela, não é mesmo?

- Você sabe como é, eu tenho filhos, e vai que eles resolvem andar na bicicleta da gente?

- Você já respondeu a pergunta, João. A bicicleta é da gente, os filhos são nossos... tá tudo em casa!

- Vai que um dia, por algum motivo a gente se desentenda... como vai ficar a bicicleta?

- A bicicleta vai ficar para nos lembrar que não se pode viver no mundo sem amigos. Que pedalar a vida com outra pessoa, torna o caminho mais curto. Dividir pedaladas com alguém faz a gente se sentir mais leve. Vai nos fazer entender que não seria possível realizar o sonho da bicicleta se não tivéssemos juntado, mesmo das nossas fraquezas, as migalhas de esperanças que nos restavam. Além do mais, João, de que vale termos o guidão de nossas vidas nas mãos se não soubermos guiar nos caminhos estreitos, nas estradas íngrimes, nos solavancos?

- Pensando assim, talvez fosse bom darmos a sugestão na fábrica para que outras pessoas pudessem também comprar uma bicicleta; e quando pudermos, compraremos também para os nossos filhos, uma bicicleta de dois coxins, para que eles nunca se percam e alimentem uma amizade!


Texto de Rodrigo Dias, grande amigo... Publicada no sítio do Jornal Mundo Jovem
Confesso: desejo...


Tão longe e tão perto
Unidos por um sentimento forte,
Mas separados pela distância
E pelas imposições do tempo.
Intrigo-me por não saber o que é essa coisa intensa
Que nos liga.
Intrigo-me por não saber o que é essa coisa
Que sei que é amor.
Intrigo-me, angustio-me

Por querer-te perto
Como tu me queres perto.
Por querer apertar-te em meu abraço
Como sei que tu queres
E como ainda não podemos...
Não podemos...
Me falaste de teus planos
E confesso:
Desespero-me com teu desatino,
(Não sei se é certo)
Mas desejo que cometas e cometas todas as doidices
Que te brotarem na cabeça...
Pra poder sentir tua pele preta tocar minha pele preta
Poder sentir outra vez perto o teu perfume
Enquanto beijo teu pescoço
Ou enquanto admiro o teu sorriso meu...
No fundo,
Desejo que cometas
Para ter-te comigo,
Para fazer-te minha...
Sei que mostro-me, com tais palavras,
Tão insano quanto tu.
Mas, peito aberto, confesso que desejo.
Confesso, peito aberto:
És louca...
E te amo...


10/08/2008
Distração


Nem te conheço.
Mas me fascinei por você.
Linda ali, a minha frente
Sem sequer saber que existo
Ou que te espiono dedicado, de longe,
Com toda admiração
E um quase êxtase...

Se eu levantasse agora
E te beijasse proibidamente,
Que pensarias?

Seria loucura...
E confesso que sinto-me tentado a cometê-la.

Mas sei que naõ posso.
Não devo.
Tu te afastarias, com medo ou revolta.
Seria perder esse instante de miragem, com que deliro agora.
Ficaria a tarde toda pensando...
No sorriso desconhecido,
Na pele que não toquei...
Numa paixão que nunca devorarei com toda entrega...
Não...
Não irei perto...
Prefiro que fiques aí, sorrindo,
Sorrindo pra mim
(sim, eu pensarei desse jeito...)
E farei de tua imagem o anestésico
Ao desejo de ter-te,
De abraçar-te...
Essa vontade que invade,
Domina...
Que me hipnotiza...

10/04/2008
Certo e errado e nada


Já não sei mais de nada
Nunca soube, pra falar a verdade...
Minha indecisão sempre me persiguiu
Colocando-me frente a frente comigo mesmo
Querer...
Precisar...
Sempre me colocando num jogo de muitas questões
E raras respostas.
Como se não bastasse,
Vejo nos teus olhos o meu desejo
Contra a minha lei.
Quase te beijei, inconseqüente.
Nada mais faz sentido...
Misturaste minhas idéias num emaranhado
Me colocaste outra vez no meu poço de dúvidas...
Não sei de mais nada.
Não sei de ti.
Não sei de mim.
Não sei de nós nem do que nos prende.
Não sei do que nos afasta.
Não sei do ceto e do errado.
Se é que existe algo errado...
Se é que existe algo certo em nossa história.

22/07/2008

Crônica do amor
Ninguém ama outra pessoa pelas qualidades que ela tem, caso contrário os honestos, simpáticos e não fumantes teriam uma fila de pretendentes batendo a porta.
O amor não é chegado a fazer contas, não obedece à razão. O v
erdadeiro amor acontece por empatia, por magnetismo, por conjunção estelar.
Ninguém ama outra pessoa porque ela é educada, veste-se bem e é fã do Caetano. Isso são só referenciais.
Ama-se pelo cheiro, pelo mistério, pela paz que o outro lhe dá, ou pelo tormento que provoca.
Ama-se pelo tom de voz, pela maneira que os olhos piscam, pela fragilidade que se revela quando menos se espera.
Você ama aquela petulante. Você escreveu dúzias de cartas que ela não respondeu, você deu flores que ela deixou a seco.
Você gosta de rock e ela de chorinho, você gosta de praia e ela tem alergia a sol, você abomina Natal e ela detesta o Ano Novo, nem no ódio vocês combinam.

Então?

Então, que ela tem um jeito de sorrir que o deixa imobilizado, o beijo dela é mais viciante do que LSD, você adora brigar com ela e ela adora implicar com você. Isso tem nome.
Você ama aquele cafajeste. Ele diz que vai e não liga, ele veste o primeiro trapo que encontra no armário. Ele não emplaca uma semana nos empregos, está sempre duro, e é meio galinha. Ele não tem a menor vocação para príncipe encantado e ainda assim você não consegue despachá-lo.
Quando a mão dele toca na sua nuca, você derrete feito manteiga. Ele toca gaita na boca, adora animais e escreve poemas. Por que você ama
este cara?

Não pergunte pra mim; você é inteligente. Lê livros, revistas, jornais. Gosta dos filmes dos irmãos Coen e do Robert Altman, mas sabe que uma boa comédia romântica também tem seu valor.
É bonita. Seu cabelo nasceu para ser sacudido num comercial de xampu e seu corpo tem todas as curvas no lugar. Independente, emprego fixo, bom saldo no banco. Gosta de viajar, de música, tem loucura por computador e seu fettucine ao pesto é imbatível.
Você tem bom humor, não pega no pé de ninguém e adora sexo.

Com um currículo desse, criatura, por que está sem um amor?

Ah, o amor, essa raposa. Quem dera o amor não fosse um sentimento, mas uma equação matemática:
eu linda + você inteligente = dois apaixonados
Não funciona assim.
Amar não requer conhecimento prévio nem consulta ao SPC. Ama-se justamente pelo que o Amor tem de indefinível.
Honestos existem aos milhares, generosos têm às pencas, bons motoristas e bons pais de família, tá assim, ó!
Mas ninguém consegue ser do jeito que o amor da sua vida é! Pense nisso. Pedir é a maneira mais eficaz de merecer. É a contingência maior de quem precisa.

Arnaldo Jabor
Sapato novo
Bem, como vai você?
Levo assim, calado, de lado
O que sonhei um dia...

Como se a alegria recolhesse a mão
Pra não me alcançar...

Poderia até pensar que foi tudo sonho...
Ponho meu sapato novo e vou passear
Sozinho...
Como der eu vou até a beira...

Besteira qualquer...

Nem choro mais...
Só levo a saudade, morena...
É tudo que vale a pena...

Eu te dou minha vida, Gabriel!

A inocência das crianças é algo realmente incrível.

Meu irmão mais novo brincava na rua com uns amigos. O jogo era simples: duas pessoas, uma em frente à outra tentavam atingir com uma bola quem estivesse entre elas. Os que fossem atingidos, "morriam", saíam da brincadeira; quem conseguisse agarrar a bola, ganhava uma "vida", o direito de permanecer jogando quando atingido, até que se esgotasse o seu estoque de "vidas".

Eu estava entrando em casa sem prestar muita atenção nas crianças, quendo, muito por acaso, ouvi uma frase de meu irmão e entendi o que acontecera: seu melhor amigo, Gabriel, tinha sido atingido por alguém. já estava saindo para sentar num canto quando meu irmão, nove anos de idade, gritou:

- Eu te dou a minha vida, Gabriel! Volta!

Meu irmão tinha "vidas sobrando", e resolveu doar uma para seu amigo. Eu olhei para eles e sorri. Gabriel agradeceu com um aperto de mão e eles voltaram a se divertir, sem dar a menor atenção ao que acontecia a sua volta.

Era uma cena bonita.

Parei pra pensar na força daquela frase dita com tanta inocência. "Eu te dou a minha vida". Parei pra pensar que eu, aos meu nove anos de idade, quando brincava na rua com os amigos, tinha usado aquela frase muitas vezes.

Mas, como tantas outras pessoas por aí, eu decidi deixar de ser criança e esqueci o quanto aquela frase poderia ser bonita.

Ninguém mais carrega essa solidariedade, esse cuidado, esse desejo de dar a própria vida pelo outro. Não falo de morrer para que uma outra pessoa viva, assim, literalmente... Doar a vida pode ser mais simples e até mais bonito: um sorriso, um carinho, uma oração, um ato de defesa, um gesto de cuidado. Dar a vida é é escolhê-la como bandeira de caminhada, é defendê-la com paixão e força de vontade.
Dar a vida é garantir ao outro o direito de viver bem, com dignidade, com amor.

É reativar no peito o sonho de criança: enxergar no outro um amigo que fará mais feliz a brincadeira da Vida, se puder brincar também, ao nosso lado.

Dar a Vida é lutar por ela.

É torná-la bela.

É torná-la viva.
Homenagem ao cara do orelhão
Todo mundo já ouviu falar do problema da falta de afetividade. Inúmeras vozes já se levantaram em “apelos eloqüentes à bondade do homem”, em palavras de Chaplin.
O mais interessante é perceber como as pessoas entram em contradição diante dessas filosofias. Vejamos: uma platéia enorme assiste a uma palestra em que o orador discursa belissimamente sobre a necessidade de carinho nas relações humanas. Há a certeza de que arrancará aplausos e até mesmo lágrimas da multidão emocionada... Mas há a certeza de que, ao deixar o auditório, essa mesma multidão voltará à indiferença que sempre preencheu os seus dias. Ou será que algum deles ousará abreçar um desconhecido? Alguém terá a coragem de dizer uma palavra de afeto a outro que passa na rua?
Chego a essa conclusões sinceramente envergonhado com o que me fez pensar nisto tudo. Eu também sempre fui um desses oradores, eternamente falando da necessidade de amor entre as pessoas. Porém, passeando pela rua outro dia, vi-me numa situação inusitada, que me fez refletir bastante: caminhava distraído, pensando em alguns problemas a resolver, quando passei por um orelhão, um telefone público.
De repente, um homem, que usava o aparelho, saiu e me cumprimentou afoitamente:
- Bom dia! Como vai? Tudo bem?
Confesso que levei um susto. Respondi educadamente, mas achando estranho o fato: uma pessoa que nunca vi falou comigo subitamente, com o se precisasse da palavra de outro indivíduo, com urgência. E, apesar de pregar tanto a “afetividade”, concluí logo que aquele homem deveria devia ser um doido...
Arrependi-me imediatamente e parei pra refletir sobre este meu pensamento.
Onde foi que esconderam o cuidado e o afeto? Por que chamamos louco alguém que se preocupa conosco?
E penso que, nesse mundo, em que vale a troca de favores, rejeitamos o carinho do outro para não ter que cuidar dele também. Temos o medo de que cobrem de nós o amor que nos deram e que deixamos que se perdesse. Negociamos a bondade. E ainda julgamos insano o que é bom sem desejar nada em troca.
Onde deveria existir amor, crianças crescem desenvolvendo instinto, aprendendo que não se pode confiar em ninguém. Onde deveria haver a cultura do abraço, predominam a violência e o ódio.
O calor dos corações é trocado pela frieza dos canos das armas...
É preciso vencer o medo, quebrar as nossas grades. Passear na rua esquecendo o chão para olhar o outro. Abrir um sorriso, desejar paz, espalhar felicidade, abraçar forte, cuidar... Aproximar corpos e corações...
Assim, a gente alcança esse amor de que tanto falam por aí... Pode parecer utopia... e não o nego. Digo, apenas, que os desejos deixam de ser utopia no dia em que permitimos que se tornem realidade, através de atitudes como a do cara do orelhão.
Eles não são doidos. Nós é que somos insensíveis...
Rendição


Invadiu meus pensamentos de mansinho.
Um dia todo sem te ver...
Pensando em você...
Desesjava esquecer-te,
Pelo menos um segundo
Para sentir o peito mais tranqüilo.
Te sentia, lá no fundo
E pedia ao coração pra bater menos,
Pra me deixar respirar com mais calma...
Mas você vem...
Aparece...
Linda...
Com os olhos mais reluzentes que sempre...
Como fugir?
Sinto-me arder...
Sinto a sede de completar-me
Contigo...
Abraçando o teu cheiro
Mergulhando em teus olhos
Deixando-me entregar ao delírio que o teu sorriso proporciona...
Impossível controlar-me.
Não dá pra segurar esse coração fraco,
Que não trava sequer uma batalha contra o teu domínio.
Nunca luta.
Simplesmente entrega-se.
Rende-se.
Leva-me junto.
E não há feleicidade maior do que sentir essa derrota...

25/03/2008
Um herói fora da TV Xuxa...
No meu tempo de criança (nem faz tanto tempo assim...) Superman, Capitão América, Rambo e companhia ilimitada eram fantasias infantis. Eu e meus irmãos adorávamos assistir a seus filmes e desenhos. Mas as coisas mudaram. Os heróis estadunidenses invadiram outro horário, para um público um pouquinho mais velho.

Em tempos de jogos olímpicos – como aconteceu na copa de 1970 – a mídia não perde a oportunidade de engrandecer a imagem de um país. A diferença é uma só: dessa vez, a nação ovacionada não é o Brasil.

Aquaman que se cuide! O novo senhor das águas, o novo delírio do país chama-se Michael Phelps, o todo poderoso das piscinas!

Restam algumas dúvidas: quantas vitórias espetaculares aconteceram em Pequim? Quantos recordes foram quebrados, em quantas modalidades? Provavelmente, algum queniano realizou façanhas incríveis nas várias provas de corrida, como acontece sempre, quase tradicionalmente.

Mas apenas o novo super-homem, estadunidense (e não africano), foi digno do pronunciamento emocionado de Galvão Bueno. O veterano narrador elogiou até o corpo escultural do atleta. Explorou vitória por vitória, dando a Phelps todos os créditos, inclusive na prova de revezamento. Durante uma das disputas, a tensão maior era causada pela possibilidade do herói receber uma prata...

Vitória espetacular, por um centésimo de segundo...

E assim, o nadador consagrava-se, merecendo ser citado, homenageado, idolatrado em qualquer obra sobre olimpíadas, dizia Galvão, acrescentando que, de todos os jogos que cobrira, levaria as histórias da jovem carreira de Phelps como acontecimentos dos mais marcantes que presenciou.

Mais tarde, ao falar do prestígio de uma das maiores divas da música americana, Dionne Warwick, o dominical Fausto Silva não perdeu a oportunidade de comparar os recordes de sucesso da cantora às maravilhas realizadas pelo esportista.

Para completar, num outro canal, Carlos Nascimento falava sobre o que o atleta comia em cada refeição.

Enquanto isso, alguma notícia sobre o governo no Jornal Nacional? E no Jornal da Band, se falava da fome de milhões comparada às três panquecas do café da manhã de Phelps? Como anda a economia do país, alguém ouviu falar? Além do patriotismo temporário, típico da febre pelos grandes eventos do esporte, a construção da imagem de um novo herói apagou qualquer preocupação com a situação do Brasil.

E a tal “função social” dos jornalistas?

Não culpo nem tiro os méritos dos esportistas todos. Que briguem por suas medalhas, que nos divirtam por aqui...

O que me preocupa é ver a televisão brasileira buscar, num “personagem real”, a construção da imagem superior, vitoriosa dos Estados Unidos, enquanto ele segue governando o planeta como quiser e bem entender.

O que me preocupa é ver Pequim no centro das atenções, enquanto o pobre ali em frente anda esquecido, mais do que sempre.

O que me preocupa é falar e sentir minha pergunta ecoar no vazio de preocupações dos brasileiros e, principalmente, dos “profissionais da informação”. Pergunta que repito, incansavelmente:

Onde foi parar a tal “função social” dos jornalistas?



Pra começar, Pessoa!
Como não poderia deixar de ser, começo meu trabalho aqui com um poema do mestre Fernando Pessoa, texto que, inclusive, me motivou a começar a publicar meus textos na net. Compartilho com vocês agora...





Da mais alta janela de minha casa,
Com um lenço branco
Digo adeus aos meus versos que partem para a humanidade.

E não estou alegre nem triste.

Este é o destino dos versos...

Escrevi-os e devo mostrá-los a todos
Porque não posso fazer o contrário
Como a flor não pode esconder a cor,
Nem o rio esconder que corre,
Nem a árvore esconder que dá fruto.

Ei-los que vão já longe como que na diligência
E eu sem querer sinto pena
Como uma dor no corpo.

Quem sabe quem os terá?
Quem sabe a que mãos irão?

Flor, colheu-me o meu destino para os olhos.
Árvore, arrancaram-me os frutos para as bocas.
Rio, o destino da minha água era não ficar em mim.
Submeto-me e sinto-me quase alegre,
Quase alegre como quem se cansa de estar triste.

Ide, ide de mim!
Passa a árvore e fica dispersa pela Natureza.
Murcha a flor e o seu pó dura sempre.
Corre o rio e entra no mar e a sua água é sempre a que foi sua.

Passo e fico, como o Universo.