Uma bicicleta, dois coxins e muita amizade...


Um operário que morava há alguns quilômetros da fábrica onde trabalhava. Precisava adquirir uma bicicleta para facilitar as suas idas e vindas para o trabalho. As despesas com a família não eram grandes, mas o dinheiro que ganhava era tão pouco, que mal dava para cobrir as necessidades básicas de cada mês.

Quando começava a juntar um pouquinho para realizar o sonho de ter o seu meio de transporte, sempre aparecia uma urgência que o fazia mudar o itinerário das suas economias. Um dia, no caminho do serviço, conversando com o seu amigo João, colega de trabalho, contou da sua necessidade de ter uma bicicleta que pudesse tornar menos cansativa a chegada no emprego. O seu amigo lhe disse que também havia por muito tempo sonhado com isso, mas que foram tantos anos tentando sem conseguir, que havia desistido do sonho.

A conversa encerrou por ali; haviam chegado à fábrica e cada um foi para o setor que trabalhava. No final do turno, de volta para casa, os dois amigos encontram-se novamente para fazerem o caminho de volta pra casa. A conversa da bicicleta era muito importante para ambos e não poderiam deixar de comentar o assunto.

- E aí, João, vamos ressuscitar a idéia da bicicleta. Não se deixa de lado os sonhos, por mais difíceis que eles pareçam...

- É, eu sei que isso é verdade, responde João – mas as durezas do viver muitas vezes nos fazem pensar o contrário!

- Sabe João, continuou, o amigo – estive pensando que se você quisesse, poderíamos comprar uma bicicleta para nós dois.
- Como, uma bicicleta para duas pessoas?

- É, João. Estive olhando outro dia numa revista e existem bicicletas que têm dois coxins, quatro pedais, dois guidões, e o que é melhor, não custa o valor de duas bicicletas; é um pouquinho mais cara que a outra, mas bem mais barata do que duas.

- Então, veja se eu entendi: a gente junta as nossas poucas economias, compra uma bicicleta de dois coxins para nós dois e vamos e voltamos juntos do trabalho, certo?

- É isso mesmo!

- Bem, falou João, e onde ficará guardada a bicicleta, se nós dois seremos os donos?

- Na sua casa, João, você mora mais longe e precisará muito mais dela do que eu.

- E quando der algum problema, e a bicicleta estiver comigo?

- Nós vamos dar um jeito de consertá-la, afinal somos nós que nos utilizamos dela, não é mesmo?

- Você sabe como é, eu tenho filhos, e vai que eles resolvem andar na bicicleta da gente?

- Você já respondeu a pergunta, João. A bicicleta é da gente, os filhos são nossos... tá tudo em casa!

- Vai que um dia, por algum motivo a gente se desentenda... como vai ficar a bicicleta?

- A bicicleta vai ficar para nos lembrar que não se pode viver no mundo sem amigos. Que pedalar a vida com outra pessoa, torna o caminho mais curto. Dividir pedaladas com alguém faz a gente se sentir mais leve. Vai nos fazer entender que não seria possível realizar o sonho da bicicleta se não tivéssemos juntado, mesmo das nossas fraquezas, as migalhas de esperanças que nos restavam. Além do mais, João, de que vale termos o guidão de nossas vidas nas mãos se não soubermos guiar nos caminhos estreitos, nas estradas íngrimes, nos solavancos?

- Pensando assim, talvez fosse bom darmos a sugestão na fábrica para que outras pessoas pudessem também comprar uma bicicleta; e quando pudermos, compraremos também para os nossos filhos, uma bicicleta de dois coxins, para que eles nunca se percam e alimentem uma amizade!


Texto de Rodrigo Dias, grande amigo... Publicada no sítio do Jornal Mundo Jovem
Confesso: desejo...


Tão longe e tão perto
Unidos por um sentimento forte,
Mas separados pela distância
E pelas imposições do tempo.
Intrigo-me por não saber o que é essa coisa intensa
Que nos liga.
Intrigo-me por não saber o que é essa coisa
Que sei que é amor.
Intrigo-me, angustio-me

Por querer-te perto
Como tu me queres perto.
Por querer apertar-te em meu abraço
Como sei que tu queres
E como ainda não podemos...
Não podemos...
Me falaste de teus planos
E confesso:
Desespero-me com teu desatino,
(Não sei se é certo)
Mas desejo que cometas e cometas todas as doidices
Que te brotarem na cabeça...
Pra poder sentir tua pele preta tocar minha pele preta
Poder sentir outra vez perto o teu perfume
Enquanto beijo teu pescoço
Ou enquanto admiro o teu sorriso meu...
No fundo,
Desejo que cometas
Para ter-te comigo,
Para fazer-te minha...
Sei que mostro-me, com tais palavras,
Tão insano quanto tu.
Mas, peito aberto, confesso que desejo.
Confesso, peito aberto:
És louca...
E te amo...


10/08/2008
Distração


Nem te conheço.
Mas me fascinei por você.
Linda ali, a minha frente
Sem sequer saber que existo
Ou que te espiono dedicado, de longe,
Com toda admiração
E um quase êxtase...

Se eu levantasse agora
E te beijasse proibidamente,
Que pensarias?

Seria loucura...
E confesso que sinto-me tentado a cometê-la.

Mas sei que naõ posso.
Não devo.
Tu te afastarias, com medo ou revolta.
Seria perder esse instante de miragem, com que deliro agora.
Ficaria a tarde toda pensando...
No sorriso desconhecido,
Na pele que não toquei...
Numa paixão que nunca devorarei com toda entrega...
Não...
Não irei perto...
Prefiro que fiques aí, sorrindo,
Sorrindo pra mim
(sim, eu pensarei desse jeito...)
E farei de tua imagem o anestésico
Ao desejo de ter-te,
De abraçar-te...
Essa vontade que invade,
Domina...
Que me hipnotiza...

10/04/2008
Certo e errado e nada


Já não sei mais de nada
Nunca soube, pra falar a verdade...
Minha indecisão sempre me persiguiu
Colocando-me frente a frente comigo mesmo
Querer...
Precisar...
Sempre me colocando num jogo de muitas questões
E raras respostas.
Como se não bastasse,
Vejo nos teus olhos o meu desejo
Contra a minha lei.
Quase te beijei, inconseqüente.
Nada mais faz sentido...
Misturaste minhas idéias num emaranhado
Me colocaste outra vez no meu poço de dúvidas...
Não sei de mais nada.
Não sei de ti.
Não sei de mim.
Não sei de nós nem do que nos prende.
Não sei do que nos afasta.
Não sei do ceto e do errado.
Se é que existe algo errado...
Se é que existe algo certo em nossa história.

22/07/2008

Crônica do amor
Ninguém ama outra pessoa pelas qualidades que ela tem, caso contrário os honestos, simpáticos e não fumantes teriam uma fila de pretendentes batendo a porta.
O amor não é chegado a fazer contas, não obedece à razão. O v
erdadeiro amor acontece por empatia, por magnetismo, por conjunção estelar.
Ninguém ama outra pessoa porque ela é educada, veste-se bem e é fã do Caetano. Isso são só referenciais.
Ama-se pelo cheiro, pelo mistério, pela paz que o outro lhe dá, ou pelo tormento que provoca.
Ama-se pelo tom de voz, pela maneira que os olhos piscam, pela fragilidade que se revela quando menos se espera.
Você ama aquela petulante. Você escreveu dúzias de cartas que ela não respondeu, você deu flores que ela deixou a seco.
Você gosta de rock e ela de chorinho, você gosta de praia e ela tem alergia a sol, você abomina Natal e ela detesta o Ano Novo, nem no ódio vocês combinam.

Então?

Então, que ela tem um jeito de sorrir que o deixa imobilizado, o beijo dela é mais viciante do que LSD, você adora brigar com ela e ela adora implicar com você. Isso tem nome.
Você ama aquele cafajeste. Ele diz que vai e não liga, ele veste o primeiro trapo que encontra no armário. Ele não emplaca uma semana nos empregos, está sempre duro, e é meio galinha. Ele não tem a menor vocação para príncipe encantado e ainda assim você não consegue despachá-lo.
Quando a mão dele toca na sua nuca, você derrete feito manteiga. Ele toca gaita na boca, adora animais e escreve poemas. Por que você ama
este cara?

Não pergunte pra mim; você é inteligente. Lê livros, revistas, jornais. Gosta dos filmes dos irmãos Coen e do Robert Altman, mas sabe que uma boa comédia romântica também tem seu valor.
É bonita. Seu cabelo nasceu para ser sacudido num comercial de xampu e seu corpo tem todas as curvas no lugar. Independente, emprego fixo, bom saldo no banco. Gosta de viajar, de música, tem loucura por computador e seu fettucine ao pesto é imbatível.
Você tem bom humor, não pega no pé de ninguém e adora sexo.

Com um currículo desse, criatura, por que está sem um amor?

Ah, o amor, essa raposa. Quem dera o amor não fosse um sentimento, mas uma equação matemática:
eu linda + você inteligente = dois apaixonados
Não funciona assim.
Amar não requer conhecimento prévio nem consulta ao SPC. Ama-se justamente pelo que o Amor tem de indefinível.
Honestos existem aos milhares, generosos têm às pencas, bons motoristas e bons pais de família, tá assim, ó!
Mas ninguém consegue ser do jeito que o amor da sua vida é! Pense nisso. Pedir é a maneira mais eficaz de merecer. É a contingência maior de quem precisa.

Arnaldo Jabor
Sapato novo
Bem, como vai você?
Levo assim, calado, de lado
O que sonhei um dia...

Como se a alegria recolhesse a mão
Pra não me alcançar...

Poderia até pensar que foi tudo sonho...
Ponho meu sapato novo e vou passear
Sozinho...
Como der eu vou até a beira...

Besteira qualquer...

Nem choro mais...
Só levo a saudade, morena...
É tudo que vale a pena...

Eu te dou minha vida, Gabriel!

A inocência das crianças é algo realmente incrível.

Meu irmão mais novo brincava na rua com uns amigos. O jogo era simples: duas pessoas, uma em frente à outra tentavam atingir com uma bola quem estivesse entre elas. Os que fossem atingidos, "morriam", saíam da brincadeira; quem conseguisse agarrar a bola, ganhava uma "vida", o direito de permanecer jogando quando atingido, até que se esgotasse o seu estoque de "vidas".

Eu estava entrando em casa sem prestar muita atenção nas crianças, quendo, muito por acaso, ouvi uma frase de meu irmão e entendi o que acontecera: seu melhor amigo, Gabriel, tinha sido atingido por alguém. já estava saindo para sentar num canto quando meu irmão, nove anos de idade, gritou:

- Eu te dou a minha vida, Gabriel! Volta!

Meu irmão tinha "vidas sobrando", e resolveu doar uma para seu amigo. Eu olhei para eles e sorri. Gabriel agradeceu com um aperto de mão e eles voltaram a se divertir, sem dar a menor atenção ao que acontecia a sua volta.

Era uma cena bonita.

Parei pra pensar na força daquela frase dita com tanta inocência. "Eu te dou a minha vida". Parei pra pensar que eu, aos meu nove anos de idade, quando brincava na rua com os amigos, tinha usado aquela frase muitas vezes.

Mas, como tantas outras pessoas por aí, eu decidi deixar de ser criança e esqueci o quanto aquela frase poderia ser bonita.

Ninguém mais carrega essa solidariedade, esse cuidado, esse desejo de dar a própria vida pelo outro. Não falo de morrer para que uma outra pessoa viva, assim, literalmente... Doar a vida pode ser mais simples e até mais bonito: um sorriso, um carinho, uma oração, um ato de defesa, um gesto de cuidado. Dar a vida é é escolhê-la como bandeira de caminhada, é defendê-la com paixão e força de vontade.
Dar a vida é garantir ao outro o direito de viver bem, com dignidade, com amor.

É reativar no peito o sonho de criança: enxergar no outro um amigo que fará mais feliz a brincadeira da Vida, se puder brincar também, ao nosso lado.

Dar a Vida é lutar por ela.

É torná-la bela.

É torná-la viva.
Homenagem ao cara do orelhão
Todo mundo já ouviu falar do problema da falta de afetividade. Inúmeras vozes já se levantaram em “apelos eloqüentes à bondade do homem”, em palavras de Chaplin.
O mais interessante é perceber como as pessoas entram em contradição diante dessas filosofias. Vejamos: uma platéia enorme assiste a uma palestra em que o orador discursa belissimamente sobre a necessidade de carinho nas relações humanas. Há a certeza de que arrancará aplausos e até mesmo lágrimas da multidão emocionada... Mas há a certeza de que, ao deixar o auditório, essa mesma multidão voltará à indiferença que sempre preencheu os seus dias. Ou será que algum deles ousará abreçar um desconhecido? Alguém terá a coragem de dizer uma palavra de afeto a outro que passa na rua?
Chego a essa conclusões sinceramente envergonhado com o que me fez pensar nisto tudo. Eu também sempre fui um desses oradores, eternamente falando da necessidade de amor entre as pessoas. Porém, passeando pela rua outro dia, vi-me numa situação inusitada, que me fez refletir bastante: caminhava distraído, pensando em alguns problemas a resolver, quando passei por um orelhão, um telefone público.
De repente, um homem, que usava o aparelho, saiu e me cumprimentou afoitamente:
- Bom dia! Como vai? Tudo bem?
Confesso que levei um susto. Respondi educadamente, mas achando estranho o fato: uma pessoa que nunca vi falou comigo subitamente, com o se precisasse da palavra de outro indivíduo, com urgência. E, apesar de pregar tanto a “afetividade”, concluí logo que aquele homem deveria devia ser um doido...
Arrependi-me imediatamente e parei pra refletir sobre este meu pensamento.
Onde foi que esconderam o cuidado e o afeto? Por que chamamos louco alguém que se preocupa conosco?
E penso que, nesse mundo, em que vale a troca de favores, rejeitamos o carinho do outro para não ter que cuidar dele também. Temos o medo de que cobrem de nós o amor que nos deram e que deixamos que se perdesse. Negociamos a bondade. E ainda julgamos insano o que é bom sem desejar nada em troca.
Onde deveria existir amor, crianças crescem desenvolvendo instinto, aprendendo que não se pode confiar em ninguém. Onde deveria haver a cultura do abraço, predominam a violência e o ódio.
O calor dos corações é trocado pela frieza dos canos das armas...
É preciso vencer o medo, quebrar as nossas grades. Passear na rua esquecendo o chão para olhar o outro. Abrir um sorriso, desejar paz, espalhar felicidade, abraçar forte, cuidar... Aproximar corpos e corações...
Assim, a gente alcança esse amor de que tanto falam por aí... Pode parecer utopia... e não o nego. Digo, apenas, que os desejos deixam de ser utopia no dia em que permitimos que se tornem realidade, através de atitudes como a do cara do orelhão.
Eles não são doidos. Nós é que somos insensíveis...
Rendição


Invadiu meus pensamentos de mansinho.
Um dia todo sem te ver...
Pensando em você...
Desesjava esquecer-te,
Pelo menos um segundo
Para sentir o peito mais tranqüilo.
Te sentia, lá no fundo
E pedia ao coração pra bater menos,
Pra me deixar respirar com mais calma...
Mas você vem...
Aparece...
Linda...
Com os olhos mais reluzentes que sempre...
Como fugir?
Sinto-me arder...
Sinto a sede de completar-me
Contigo...
Abraçando o teu cheiro
Mergulhando em teus olhos
Deixando-me entregar ao delírio que o teu sorriso proporciona...
Impossível controlar-me.
Não dá pra segurar esse coração fraco,
Que não trava sequer uma batalha contra o teu domínio.
Nunca luta.
Simplesmente entrega-se.
Rende-se.
Leva-me junto.
E não há feleicidade maior do que sentir essa derrota...

25/03/2008
Um herói fora da TV Xuxa...
No meu tempo de criança (nem faz tanto tempo assim...) Superman, Capitão América, Rambo e companhia ilimitada eram fantasias infantis. Eu e meus irmãos adorávamos assistir a seus filmes e desenhos. Mas as coisas mudaram. Os heróis estadunidenses invadiram outro horário, para um público um pouquinho mais velho.

Em tempos de jogos olímpicos – como aconteceu na copa de 1970 – a mídia não perde a oportunidade de engrandecer a imagem de um país. A diferença é uma só: dessa vez, a nação ovacionada não é o Brasil.

Aquaman que se cuide! O novo senhor das águas, o novo delírio do país chama-se Michael Phelps, o todo poderoso das piscinas!

Restam algumas dúvidas: quantas vitórias espetaculares aconteceram em Pequim? Quantos recordes foram quebrados, em quantas modalidades? Provavelmente, algum queniano realizou façanhas incríveis nas várias provas de corrida, como acontece sempre, quase tradicionalmente.

Mas apenas o novo super-homem, estadunidense (e não africano), foi digno do pronunciamento emocionado de Galvão Bueno. O veterano narrador elogiou até o corpo escultural do atleta. Explorou vitória por vitória, dando a Phelps todos os créditos, inclusive na prova de revezamento. Durante uma das disputas, a tensão maior era causada pela possibilidade do herói receber uma prata...

Vitória espetacular, por um centésimo de segundo...

E assim, o nadador consagrava-se, merecendo ser citado, homenageado, idolatrado em qualquer obra sobre olimpíadas, dizia Galvão, acrescentando que, de todos os jogos que cobrira, levaria as histórias da jovem carreira de Phelps como acontecimentos dos mais marcantes que presenciou.

Mais tarde, ao falar do prestígio de uma das maiores divas da música americana, Dionne Warwick, o dominical Fausto Silva não perdeu a oportunidade de comparar os recordes de sucesso da cantora às maravilhas realizadas pelo esportista.

Para completar, num outro canal, Carlos Nascimento falava sobre o que o atleta comia em cada refeição.

Enquanto isso, alguma notícia sobre o governo no Jornal Nacional? E no Jornal da Band, se falava da fome de milhões comparada às três panquecas do café da manhã de Phelps? Como anda a economia do país, alguém ouviu falar? Além do patriotismo temporário, típico da febre pelos grandes eventos do esporte, a construção da imagem de um novo herói apagou qualquer preocupação com a situação do Brasil.

E a tal “função social” dos jornalistas?

Não culpo nem tiro os méritos dos esportistas todos. Que briguem por suas medalhas, que nos divirtam por aqui...

O que me preocupa é ver a televisão brasileira buscar, num “personagem real”, a construção da imagem superior, vitoriosa dos Estados Unidos, enquanto ele segue governando o planeta como quiser e bem entender.

O que me preocupa é ver Pequim no centro das atenções, enquanto o pobre ali em frente anda esquecido, mais do que sempre.

O que me preocupa é falar e sentir minha pergunta ecoar no vazio de preocupações dos brasileiros e, principalmente, dos “profissionais da informação”. Pergunta que repito, incansavelmente:

Onde foi parar a tal “função social” dos jornalistas?



Pra começar, Pessoa!
Como não poderia deixar de ser, começo meu trabalho aqui com um poema do mestre Fernando Pessoa, texto que, inclusive, me motivou a começar a publicar meus textos na net. Compartilho com vocês agora...





Da mais alta janela de minha casa,
Com um lenço branco
Digo adeus aos meus versos que partem para a humanidade.

E não estou alegre nem triste.

Este é o destino dos versos...

Escrevi-os e devo mostrá-los a todos
Porque não posso fazer o contrário
Como a flor não pode esconder a cor,
Nem o rio esconder que corre,
Nem a árvore esconder que dá fruto.

Ei-los que vão já longe como que na diligência
E eu sem querer sinto pena
Como uma dor no corpo.

Quem sabe quem os terá?
Quem sabe a que mãos irão?

Flor, colheu-me o meu destino para os olhos.
Árvore, arrancaram-me os frutos para as bocas.
Rio, o destino da minha água era não ficar em mim.
Submeto-me e sinto-me quase alegre,
Quase alegre como quem se cansa de estar triste.

Ide, ide de mim!
Passa a árvore e fica dispersa pela Natureza.
Murcha a flor e o seu pó dura sempre.
Corre o rio e entra no mar e a sua água é sempre a que foi sua.

Passo e fico, como o Universo.