Batismo
Creio ter sido este o poema mais louco e mais viajado que o amigo Gabriel tenha escrito. Mas o sinto belo, exatamente por essa capacidade extrema de enlouquecer poeticamente no meio da loucura mecânica e fria do dia-a-dia da gente.


A você, Katú, obrigado por se permitir ser um instrumento do meu auto-reconhecimento, da minha descoberta de mim mesmo... Abraço forte.





Fecho os olhos
Para o ato mais banal e místico do meu dia...
É purificador...
Elevo meu corpo ao sublime
E sinto todas as gotas me caírem na face
Que as deseja e espera...
Sinto me percorrerem o corpo
Como uma prostituta entregue que beija toda a minha pele,
Bêbada
E me leva a um não sei quê de nostalgia
Além do prazer dos músculos do sexo...
Sinto o beijo simples da água,
Serena, singela,
Num simples ritual de expulsar tudo,
Demônios e Deuses,
E vou pensar escrever esses versos...
Versos inúteis, como meu ritual...
Versos intensos, talvez, como meu ritual...
E pensando neles, os esqueço,
Tomado pela traição da mão própria que me seca a fonte
O chuveiro fecha...
Sinto a necessária e dolorosa ida da prostituta entregue,
E a minha pele embriagada se sente seca de repente...
Desejando-a,
Como a um elixir de que precisa
Para continuar a nostalgia do prazer...
(Além de um simples e místico banho,
Algum outro prazer há
Pelos bares de minha vida errante e doce?)
Despeço-me da prostituta,
Sem pagá-la
E vejo-me voltando ao cotidiano lúcido,
Sem os delírios,
E sem a possibilidade de fantasiar um batismo ébrio...
Sem a possibilidade de fantasiar nada...
(Como conseguimos?)
Vejo-me voltando ao cotidiano lúcido,
Talvez sem nostalgia,
E fico na esperança de, em momentos tais como esse
Fazer de todas as coisas banais e inúteis,
Banais e inúteis coisas poéticas...

Gabriel Katú, 08/01/2009
Segunda poesia de três versos...
Quando tenho-te perto,
Tudo o que mais quero
É a delícia de uma noite mal dormida...
Murilo Araújo
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